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A culpa é das estrelas: 12 capítulo.
A culpa é das estrelas: 12 capítulo.

Às 3h32 em ponto, avistei Kaitlyn passando, confiante e decidida, em frente ao restaurante Wok House. Ela me viu quando levantei o braço, abriu um sorriso de dentes branquinhos e recém-alinhados, e veio andando na minha direção.
Ela estava com um casaco cinza-escuro que ia até o joelho, perfeitamente ajustado ao corpo, e óculos escuros que cobriam boa parte do rosto. Ela empurrou os óculos para o alto da cabeça quando se abaixou
para me abraçar.
— Amada — disse de um jeito levemente afetado. — Como vai?
Ninguém achava aquele modo de falar estranho nem se incomodava.
Acontece que a Kaitlyn era uma socialite britânica de vinte e cinco anos presa no corpo de uma adolescente de dezesseis e morando em Indianápolis. Todo mundo aceitava aquilo.
— Estou bem. E você?
— Nem sei mais. Isso é Coca Zero? — Fiz que sim com a cabeça e entreguei o copo para ela, que tomou um gole pelo canudo. — Eu adoraria que você estivesse indo à escola nos últimos tempos. Alguns dos meninos ficaram totalmente apetitosos.
— É mesmo? Tipo quem? — perguntei. Ela listou cinco garotos que foram da nossa turma na educação infantil e no ensino fundamental, mas não consegui me lembrar de nenhum deles.
— Estou saindo com o Derek Wellington já faz algum tempo — ela disse —, mas não acho que vá durar. Ele é tão infantil... Mas chega de falar de mim. Quais são as novidades no universo Hazel?
— Nenhuma, na verdade — respondi.
— A saúde está boa?
— Na mesma, acho.
— Falanxifor! — ela disse, entusiasmada, sorrindo. — Então você pode acabar vivendo para sempre?
— Talvez não para sempre — ponderei.
— Mas, praticamente — ela falou. — Nenhuma outra novidade?
Pensei em contar para ela que estava saindo com um garoto também, ou pelo menos que tinha assistido a um filme com ele, só porque sabia que o fato de alguém como eu, tão descuidada da aparência, dos bons modos e baixinha, poder, mesmo que por um breve momento, despertar o interesse de um garoto causaria surpresa e espanto na Kaitlyn. Mas não tinha muito do que me gabar, na verdade, então só dei de ombros.
— Céus, o que é isso? — ela perguntou, apontando para o livro.
— Ah, é ficção científica. Estou meio que curtindosci-fiagora. É uma série.
— Estou chocada. Vamos fazer compras?
* * *
Fomos à sapataria. Enquanto escolhíamos os modelos, a Kaitlyn ia me mostrando sapatilhas abertas na frente e dizendo: "Essas ficariam lindas em você", o que me fez lembrar do fato de que ela nunca usava sandálias porque odiava os próprios pés. Achava que os dedos ao lado dos dedões eram compridos demais, como se fossem uma janela para a alma, ou coisa assim. Então, quando apontei para um par de sandálias que combinavam com seu tom de pele, a Kaitlyn reagiu com:
— É, mas… — O mas querendo dizer mas eles vão deixar meus dedos medonhos à mostra.
— Kaitlyn, você é a única pessoa que eu conheço que tem dismorfofobia do dedo do pé — falei, e ela perguntou:
— O que é isso?
— Sabe quando você olha no espelho e o que vê não é exatamente o que é de verdade?
— Ah. Ah — ela disse. — O que acha desses aqui? — Segurou um par de sapatos estilo boneca bonitinhos, mas nada de mais, eu fiz que sim com a cabeça, ela achou um par do tamanho dela, calçou e andou de um lado para outro pelo corredor da loja, olhando os pés refletidos num espelho que ia até a altura do joelho. Depois pegou um par de sapatos altíssimos, com várias tiras, à la prostituta, e perguntou: — Será humanamente possível andar com isso aqui? Quer dizer, eu simplesmente morreria… — E então parou no meio da frase e olhou para mim como que pedindo desculpas, como se mencionar a morte para quem está morrendo fosse algum tipo de crime. — Você deveria experimentá-los — continuou, tentando abafar o caso.
— Eu morreria mais rápido — garanti.
Acabei escolhendo um par de chinelos só para ter o que comprar, sentei num dos bancos em frente a uma prateleira cheia de sapatos e fiquei observando a Kaitlyn serpenteando pelos corredores da loja, escolhendo calçados com a intensidade e a concentração normalmente associadas ao xadrez profissional. Eu meio que queria tirar o Alvoradas à meia-noite da bolsa e ler um pouco, mas sabia que isso não seria muito educado de minha parte, então fiquei só olhando a Kaitlyn. De vez em quando ela ia até onde eu estava, carregando algum sapato fechado, e perguntava: "Esse?", e eu tentava fazer algum comentário inteligente sobre ele, até que, por fim, ela comprou três pares e eu, meus chinelos.
Enquanto saíamos da loja, ela perguntou:
— Vamos à Anthropologie agora?
— Está na hora de ir para casa, na verdade — falei. — Estou meio cansada.
— Claro, sem problemas — ela disse. — Preciso vê-la mais vezes, amada. — Colocou as mãos nos meus ombros, beijou minhas bochechas e bateu em retirada, rebolando os quadris.
Só que não fui para casa. Pedi para a mamãe me buscar às seis, e mesmo sabendo que ela deveria estar ou dentro do shopping ou no estacionamento, ainda queria as duas horas seguintes só para mim.

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