— Se esses desgraçados não conseguirem fazer reféns, vão matar todos eles e colocar a culpa em nós.
— Isaac, me cubra! — o Augustus falou ao pular de trás da parede e correr na direção da escola.
O Isaac pegou de volta o controle, sem jeito, e começou a atirar enquanto choviam balas em cima do Augustus, que foi atingido uma vez e depois duas, mas continuou a correr, gritando: "VOCÊS NÃO PODEM MATAR MAX MAYHEM!", e com uma combinação final e afobada de apertos nos botões ele mergulhou em cima da granada, que detonou. Seu corpo desmembrado explodiu como um gêiser e a tela ficou toda vermelha. Uma voz gutural disse: "MISSÃO FRACASSADA", mas o Augustus não parecia concordar com isso enquanto sorria, vendo seus restos mortais na tela. Ele enfiou a mão no bolso, pegou um cigarro e colocou-o entre os dentes.
— Salvamos as crianças — ele disse.
— Por enquanto — observei.
— Todo salvamento é temporário — o Augustus retrucou. — Eu proporcionei a elas mais um minuto. Talvez esse seja o minuto que vai proporcionar a elas mais uma hora, que é a hora que vai proporcionar a elas mais um ano. Ninguém vai dar a elas uma quantidade infinita de tempo, Hazel Grace, mas a minha vida deu a elas mais um minuto. E isso não é pouco.
— Opa, peraí — eu disse. — Estamos falando de pixels aqui. Ele deu de ombros, como se acreditasse que o jogo pudesse ser realmente de verdade. O Isaac estava chorando de novo. O Augustus se virou para ele:
— Vamos tentar completar a missão mais uma vez, cabo?
O Isaac fez que não. Ele se inclinou pela frente do Augustus para olhar para mim e disse, as cordas vocais exigidas ao extremo:
— Ela não quis deixar para depois.
— Ela não quis terminar o namoro com um cara cego — falei. Ele concordou, as lágrimas caindo na cadência de um metrônomo silencioso: constante, interminável.
— Ela disse que não conseguiria lidar com isso — o Isaac falou. — Estou prestes a perder a visão e ela não consegue lidar com isso.
Eu fiquei pensando no verbo lidar, e em todas as coisas não lidáveis com que se tem de lidar.
— Sinto muito — falei.
Ele enxugou o rosto todo molhado na manga da camisa. Por trás dos óculos, os olhos do Isaac pareciam tão grandes que tudo mais no rosto dele meio que desaparecia, e ficavam só aqueles dois olhos flutuantes e incorpóreos olhando para mim: um de verdade, um de vidro.
— Isso é inaceitável — ele me disse. — Isso é totalmente inaceitável.
— Bem, para ser honesta — falei —, quer dizer, ela não deve mesmo conseguir lidar com isso. Você também não, mas ela não precisa. E você, sim.
— Eu ficava dizendo "sempre" para ela hoje, "sempre, sempre, sempre", e ela só continuava falando ao mesmo tempo que eu, sem me escutar, e não disse "sempre" para mim. Era como se eu não estivesse mais ali, sabe? "Sempre" era uma promessa! Como é que você pode não cumprir uma promessa desse jeito?
— Às vezes as pessoas não têm noção das promessas que estão fazendo no momento em que as fazem — falei.
O Isaac me lançou um olhar ferino.
— Tá, tem razão. Mas você cumpre a promessa mesmo assim. Amar é isso. Amar é cumprir a promessa mesmo assim. Você não acredita em amor verdadeiro?
Não respondi. Não tinha uma resposta para aquela pergunta. Mas tive a sensação de que se o amor verdadeiro existisse, aquela seria uma definição bastante boa para ele.
— Eu acredito em amor verdadeiro — o Isaac disse. — Eu amo a
Monica. E ela fez uma promessa. Ela me prometeu para sempre. Ele ficou de pé e deu um passo na minha direção. Eu me levantei, achando que ele queria um abraço ou coisa assim, mas aí ele simplesmente deu meia-volta, como se não conseguisse se lembrar de por que tinha ficado em pé, e então o Augustus e eu vimos uma expressão de ódio tomar conta do rosto dele.
— Isaac — o Gus disse.
— O quê?
— Você parece um pouco… Não leve a mal o duplo sentido, amigo, mas há algo preocupante no seu olhar.
De repente, o Isaac começou a chutar enlouquecidamente a poltrona do videogame, que deu uma cambalhota para trás e foi parar perto da cama do Gus.
— E lá vamos nós — disse o Augustus. O Isaac seguiu a poltrona e chutou a coitada mais uma vez. — Isso aí — falou o Augustus. — Atrás dela. Chute a poltrona até não poder mais!
O Isaac chutou a poltrona de novo, até que ela bateu na cama do Gus, e aí ele pegou um dos travesseiros e começou a bater com ele na parede entre a cama e a prateleira de troféus. O Augustus olhou para mim, o
cigarro ainda na boca, e deu aquele sorrisinho típico dele.
— Eu não consigo parar de pensar naquele livro.
— Nem me fale!
— Ele nunca disse o que acontece com os outros personagens?
— Não — respondi. O Isaac ainda estava batendo na parede com o travesseiro. — Ele se mudou para Amsterdã, o que me fez imaginar que talvez estivesse escrevendo a continuação da história, com o Homem das Tulipas Holandês como personagem principal, mas ele não publicou nada.
Ele nunca é entrevistado. E não parece estar on-line. Já escrevi várias cartas perguntando o que acontece com todo mundo, mas ele nunca responde. Então… é isso.