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A culpa é das estrelas: 19 capítulo.
A culpa é das estrelas: 19 capítulo.

Depois disso, fiquei sem falar com o Augustus mais ou menos uma semana. Liguei para ele na Noite dos Troféus Destroçados e, como manda a tradição, agora era a vez dele de me ligar. Mas não
ligou. Não que eu estivesse com o celular na mão suada o dia inteiro, olhando para o aparelho, usando meu Vestido Amarelo Especial, esperando pacientemente que meu cavalheiro fizesse jus à sua alcunha.
Segui a vida normalmente: encontrei com a Kaitlyn e com seu (bonitinho mas francamente nada augustiniano) namorado para tomar um café numa tarde dessas; tomei a dose diária recomendada de Falanxifor; assisti às
aulas em três manhãs no MCC, e todas as noites sentei à mesa para jantar com minha mãe e meu pai.
Domingo à noite, comemos pizza com pimentão verde e brócolis.
Estávamos sentados em volta da nossa pequena mesa redonda na cozinha quando meu celular começou a tocar, mas eu não podia nem colocar a mão nele pois nós seguimos uma regra rígida de nada-de-telefone-na-horado-jantar.Então comi um pouco enquanto mamãe e papai conversavam sobre um terremoto que tinha acabado de acontecer em Papua-Nova Guiné.
Eles se conheceram no Corpo da Paz em Papua-Nova Guiné, por isso, sempre que alguma coisa acontecia por lá, mesmo sendo algo terrível, era como se, de repente, eles não fossem mais duas criaturas gordas e sedentárias, mas sim os jovens, idealistas, independentes e radicais que foram um dia. O êxtase deles era tão grande que nem sequer olharam para mim enquanto eu comia mais rápido que nunca, passando a comida do prato para a boca com uma velocidade e uma ferocidade que me fizeram até ficar um pouco sem fôlego, o que obviamente me deixou com medo de meus pulmões estarem de novo nadando numa piscina cheia de líquido.
Tentei ao máximo afastar esse pensamento. Eu tinha uma tomografia agendada para dali a duas semanas. Se algo estivesse errado, eu saberia logo. Não adiantava nada começar a me preocupar naquela hora.
Mas, mesmo assim, eu me preocupava. Gostava de ser uma pessoa. E queria continuar sendo. A preocupação também é outro efeito colateral de se estar morrendo.
Por fim, acabei de comer e disse:
"Vocês me dão licença?"
Mas eles não fizeram sequer uma pausa na conversa que estavam tendo sobre o que funcionava e o que não funcionava na infraestrutura guineana. Peguei o celular na bolsa, que estava na bancada da cozinha, e conferi as chamadas recentes. Augustus Waters. Saí pela porta dos fundos, em meio ao crepúsculo. Avistei o balanço, e pensei em andar até lá e me balançar enquanto falava com ele, mas a distância parecia muito grande levando em conta o fato de que comer já tinha me deixado cansada.
Em vez disso, deitei na grama junto à varanda, olhei para Órion, a única constelação que eu conseguia reconhecer, e liguei para ele.
— Hazel Grace — ele disse.
— Oi — falei. — Tudo bem?
— Maravilha — respondeu. — Tenho sentido vontade de ligar para você quase de minuto em minuto, mas estava esperando conseguir elaborar um pensamento coerente em ref. a Uma aflição imperial. (Ele disse "em ref.". Sem brincadeira. Aquele cara.)
— E? — perguntei.
— Acho que ele é, tipo. Ao ler esse livro, eu fico sentindo como se, se…
— Como se? — questionei, de provocação.
— Como se fosse um presente? — ele completou, num tom interrogativo. — Como se você tivesse me dado uma coisa importante.
— Ah — falei baixinho.
— Isso é brega — ele disse. — Foi mal.
— Não — falei. — Não. Não precisa se desculpar. — Mas o livro não termina.
— É — concordei.
— Tortura. Eu entendi totalmente, tipo, entendi que ela morre ou sei lá o quê.
— Isso mesmo, foi o que eu deduzi — falei.
— E, tudo bem, é justo, mas existe um contrato silencioso entre autor e leitor, e acho que o fato de ele não terminar a história do livro meio que viola esse contrato.
— Não sei — ponderei, me colocando na defensiva por Peter Van Houten. — De certa forma, esse é um dos motivos pelos quais eu gosto do livro. Ele registra a morte com fidelidade. Você morre no meio da vida, no meio de uma frase. Mas eu quero, ai, como eu quero saber o que acontece com os outros. Foi isso o que perguntei a ele nas minhas cartas. Mas, sabe como é, ele nunca respondeu...
— Tá. Você disse que ele vive recluso?
— Exatamente.
— Que é impossível de ser localizado?
— Exatamente.
— Totalmente inalcançável — o Augustus disse.
— Infelizmente, sim — falei.
— "Prezado Sr. Waters" — ele continuou. — "Escrevo para agradecer sua correspondência eletrônica, recebida por intermédio da Srta. Vliegenthart neste dia seis de abril, enviada dos Estados Unidos da América, conquanto se possa dizer que a geografia ainda exista na nossa contemporaneidade triunfantemente digitalizada."
— Augustus, que diabos é isso?
— Ele tem uma assistente — o Augustus disse. — Lidewij Vliegenthart. Achei o contato dela. Mandei um e-mail para ela. Ela repassou a mensagem para ele. Ele respondeu usando a conta dela.
— Tá, tá. Continue lendo.

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