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A culpa é das estrelas: 4 capítulo.
A culpa é das estrelas: 4 capítulo.

Eu tinha aprendido aquilo com meu já citado terceiro melhor amigo, Peter Van Houten, o autor recluso de Uma aflição imperial — de todos os meus livros, o mais próximo de uma Bíblia. Peter Van Houten era a única pessoa que eu conhecia que parecia: (a) entender o que era estar morrendo, e (b) não ter morrido.
Assim que terminei fez-se um longo silêncio, e eu pude ver um sorriso se abrindo de um canto ao outro no rosto do Augustus — não o tipo de sorriso cafajeste do garoto tentando parecer sexy ao me encarar, mas um sorriso sincero, quase maior que a cara dele.
— Caramba! — disse ele baixinho. — Não é que você é mesmo demais?
Nós dois não falamos mais nada até o fim da reunião, quando todos se deram as mãos e o Patrick nos guiou em uma prece.
— Senhor Jesus Cristo, estamos aqui reunidos em Seu coração, literalmente em Seu coração, como sobreviventes do câncer. O Senhor e somente o Senhor nos conhece como conhecemos a nós mesmos. Nos guie pela vida e para a Luz em nossos períodos de provação. Oremos pelos olhos do Isaac, pelo sangue do Michael e do Jamie, pelos ossos do Augustus, pelos pulmões da Hazel, pela garganta do James. Oremos para que o Senhor consiga nos curar e para que possamos sentir Seu amor e Sua paz, que excedem todo o entendimento. E nos lembremos em nossos corações daqueles que um dia conhecemos, amamos e que foram para a Sua casa: Maria, Kade, Joseph, Haley, Abigail, Angelina, Taylor, Gabriel…
A lista era grande. Tem muita gente morta no mundo. E enquanto o Patrick continuava a ladainha, lendo a relação em uma folha de papel porque era muito comprida para ser decorada, fiquei de olhos fechados, tentando elevar os pensamentos em oração, mas a maior parte do tempo imaginava o dia em que meu nome ocuparia um lugarzinho ali, bem no fim da lista, quando ninguém mais está prestando atenção.
Quando o Patrick acabou, entoamos juntos aquele mantra idiota —VIVENDO O MELHOR DA NOSSA VIDA HOJE — e foi o fim da reunião. O Augustus Waters empurrou o corpo para fora da cadeira e caminhou na minha direção. O andar dele era tão cafajeste quanto o sorriso. Ele parou na minha frente, mas manteve uma certa distância para eu poder olhá-lo nos olhos sem ter de esticar o pescoço.
— Qual é o seu nome? — ele perguntou.
— Hazel.
— Não, o nome completo.
— Ahn, Hazel Grace Lancaster. Ele ia dizendo alguma coisa quando o Isaac se aproximou.
— Só um instante — falou, levantando um dedo, e virou-se para o
Isaac. — Isso foi pior do que você tinha dito, na verdade.
— Eu disse que era um tédio.
— Por que você se dá o trabalho de vir aqui?
— Sei lá. Meio que ajuda…?
O Augustus inclinou o corpo achando que assim eu não conseguiria ouvi-lo.
— Ela vem sempre? — Não deu para escutar o comentário do Isaac, mas o Augustus respondeu:
— Quer saber? — Ele pegou o Isaac pelos ombros e deu meio passo para trás.
— Conte à Hazel da ida ao médico.
O Isaac apoiou uma das mãos na mesa de biscoitos e virou o olho enorme para mim.
— Tá, é que eu fui ao médico hoje de manhã e estava falando para o meu cirurgião que preferiria ser surdo a ser cego. E ele disse: "Não é assim que as coisas funcionam." Aí eu falei, tipo: "É, eu sei que não é assim; só estou dizendo que preferiria ser surdo a ser cego se pudesse escolher, mas sei que não posso." E ele: "Bem, a boa notícia é que você não vai ficar surdo." Eu disse: "Obrigado por esclarecer que meu câncer no olho não vai me deixar surdo. É muita sorte minha ter um gênio como você me operando."
— Ele é mesmo um gênio — falei. — Vou tentar arrumar um câncer qualquer no olho para poder conhecer esse cara.
— Boa sorte. Então, tá. Já vou indo. A Monica está me esperando.
Preciso olhar bastante para ela enquanto posso.
—Counterinsurgenceamanhã? — o Augustus perguntou.
— Com certeza. — O Isaac deu meia-volta e subiu as escadas correndo, pulando os degraus de dois em dois.
Augustus Waters se virou para mim:
— Literalmente.
— Literalmente? — perguntei. — Estamos literalmente no coração de Jesus… Achei que estivéssemos no porão de uma igreja, mas estamos literalmente no coração de Jesus.
— Alguém deveria contar isso para Jesus — falei. — Quer dizer, deve ser perigoso ficar guardando crianças com câncer no coração.
— Eu mesmo poderia contar — o Augustus falou —, mas, para minha infelicidade, estou literalmente enterrado no coração Dele, então Ele não vai conseguir me ouvir.
Eu ri. O Augustus balançou a cabeça, me olhando.
— O que foi? — perguntei.
— Nada — ele respondeu.
— Por que você está olhando para mim desse jeito?
Ele deu um sorrisinho.
— Porque você é bonita. Eu gosto de olhar para pessoas bonitas, e faz algum tempo que resolvi não me negar os prazeres mais simples da existência humana. — Um silêncio constrangedor se seguiu.
Mas o Augustus quebrou o gelo.
— Quer dizer, principalmente porque, como você deliciosamente observou, tudo isso vai acabar em total esquecimento, e tal… Eu meio que engasguei, ou suspirei, ou soltei o ar de um jeito que pareceu quase uma tosse, e disse:

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