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A culpa é das estrelas: 13 capítulo.
A culpa é das estrelas: 13 capítulo.

Eu gostava da minha mãe, mas a proximidade perpétua dela às vezes me deixava estranhamente nervosa. Também gostava da Kaitlyn. De verdade. Mas, depois de três anos afastada da convivência em tempo integral com meus colegas de turma, era como se uma distância intransponível tivesse se estabelecido entre nós. Acho que meus amigos da escola queriam me ajudar a superar essa fase do câncer, mas acabaram percebendo que não era possível. Pelo simples fato de não ser uma fase.
Então me safei usando a velha desculpa da dor e do cansaço, como fiz várias vezes nos últimos anos quando saía com a Kaitlyn ou com algum dos outros. Na verdade, sempre doía. Sempre doía não respirar como uma pessoa normal, tendo a toda hora de lembrar a seus pulmões que eles devem agir como pulmões, fazendo força para aceitar como insolúvel a dor lancinante que vem lá de dentro por causa da falta de oxigenação. Eu não estava mentindo de todo. Estava só escolhendo uma das verdades.
Achei um banco entre uma loja de suvenires irlandeses, chamada Fountain Pen Emporium, e uma loja de bonés de beisebol — um canto do shopping que nem mesmo a Kaitlyn frequentaria, e comecei a ler o
Alvoradas à meia-noite.
O livro tinha uma taxa de condenação-a-cadáver de quase 1:1, e eu o devorei sem tirar os olhos da página uma vez sequer. Gostava do Sargento Max Mayhem, mesmo a conduta dele não sendo muito "técnica", mas o que eu gostava, principalmente, era das suas aventuras, que não paravam de acontecer. Sempre havia mais caras do mal para matar e mais caras do bem para salvar. Novas guerras começavam antes mesmo de as antigas serem ganhas. Eu não lia uma série de verdade assim desde pequena, e estava animada por viver de novo numa ficção infinita.
A vinte páginas do fim do Alvoradas à meia-noite as coisas começaram a ficar um tanto ruins para o lado do Mayhem, quando ele foi atingido dezessete vezes na tentativa de resgatar uma refém (loira, norte-americana) que estava nas mãos do inimigo. Mas, no papel de leitora, não me desesperei. O esforço de guerra continuaria sem ele. Poderiam ser — e seriam — feitas continuações da história estrelando seus companheiros de grupo: o recruta Manny Loco, o soldado Jasper Jacks e os outros.
Eu estava para terminar o livro quando uma menininha de tranças surgiu na minha frente e perguntou:
— O que é isso no seu nariz?
— Humm. O nome disso é cânula. Esses tubos me dão oxigênio e me ajudam a respirar — respondi.
A mãe dela tomou a frente e disse:
— Jackie — demonstrando total desaprovação.
Mas eu falei:
— Não, não, está tudo bem. — Porque estava tudo bem mesmo.
E quando a Jackie perguntou:
— Eles me ajudariam a respirar também?
Respondi:
— Não sei. Vamos tentar.
Tirei a cânula e deixei a Jackie enfiá-la no nariz e respirar.
— Faz cosquinha — ela disse.
— Faz, não faz?
— Acho que estou respirando melhor — ela comentou.
— Mesmo?
— Mesmo.
— Bom — falei. — Eu gostaria de poder dar minha cânula para você, mas eu meio que preciso muito mesmo da ajuda dela.
Já começava a sentir falta de ar. Concentrei toda a atenção na minha respiração enquanto Jackie me devolvia os tubos. Dei uma limpadinha básica neles com a minha camiseta, encaixei-os atrás das orelhas e enfiei o cateter nas narinas.
— Obrigada por me deixar experimentar — ela disse.
— De nada.
— Jackie — a mãe falou de novo, e dessa vez eu a deixei ir.
Voltei para o livro, onde o Sargento Max Mayhem se lamentava por ter apenas uma vida para dar por seu país, mas continuei pensando na menininha e no quanto tinha gostado dela.
A outra coisa estranha em relação à Kaitlyn, acho, era que conversar com ela não parecia mais uma coisa natural. Quaisquer tentativas de simular interações sociais normais eram deprimentes porque ficava óbvio que todo mundo com quem eu falava em qualquer momento da minha vida se sentia constrangido e desconfortável comigo, exceto talvez crianças como a Jackie, que simplesmente não sabem nada da vida como ela é.
De qualquer forma, eu gostava mesmo de ficar sozinha. Gostei de ficar sozinha com o pobre Sargento Max Mayhem, que — ai, peraí, ele não vai sobreviver a dezessete ferimentos a bala, vai? (Para acabar com o suspense: ele sobrevive.)

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